1º Fichamento de Genética.
Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia
Print version ISSN 1516-8484.
Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.26 no.1 São José do Rio Preto Jan./Mar. 2004
Identificação de variantes de hemoglobina em doadores de sangue.
Ana C. Bonini-Domingos; Lígia M. S. Viana-Baracioli; Claudia R. Bonini-Domingos.
As hemoglobinopatias são patologias decorrentes da produção de uma molécula com estrutura anormal ou pela síntese insuficiente de globina normal. Constituem um grupo heterogêneo de distúrbios com padrão de herança recessivo, que incluem as talassemias e as variantes de hemoglobinas. Os tipos mais freqüentes de talassemia em nossa população são as alfa e beta, na forma heterozigótica. Entre as variantes de hemoglobinas, cerca de 800 são conhecidas, sendo mais comumente encontradas as Hb S e Hb C. São as doenças genéticas mais comuns e afetam a população brasileira com freqüências variáveis, refletindo a sua característica de formação étnica.A Organização Mundial de Saúde estima que 5% da população mundial seja portadora de algum tipo de anemia hereditária.
De acordo com a portaria RDC 343, de 13 de dezembro de 2002, "todo sangue a ser coletado, processado e transfundido, deve apresentar boa qualidade, não podendo ser, portanto, veículo de propagação de patologias". Esta portaria recomenda também que seja realizada a detecção de Hb S em doadores de sangue. O laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas – LHGDH do Ibilce/Unesp, em parceria com o Hemocentro de São José do Rio Preto, SP, desenvolve estudos de hemoglobinas (Hb) anormais em doadores de sangue, visando a melhoria da qualidade do sangue a ser transfundido.
Com o objetivo de caracterizar as isoformas de hemoglobinas com migração eletroforética semelhante à Hb S em doadores de sangue, foram analisadas amostras de candidatos à doação, provenientes de São José do Rio Preto e região, colhidas por punção venosa, com EDTA como anticoagulante, de ambos os sexos e etnia variada, após consentimento informado, no Hemocentro de São José do Rio Preto-SP.
Inicialmente, foram triadas no Hemocentro as formas variantes de hemoglobinas por eletroforese pH alcalino, e aquelas que apresentaram alguma alteração no traçado eletroforético foram enviadas para o LHGDH para estudo completo de hemoglobinopatias. Os procedimentos de análise incluíram testes de triagem tais como: Resistência osmótica em solução de NaCl a 0,36%, para verificar a possível herança de talassemias; Morfologia eritrocitária,que avalia a forma, o tamanho e o conteúdo de hemoglobinas dos eritrócitos, visando à identificação de achados laboratoriais característicos de hemoglobinas anormais; Eletroforese em acetato de celulose pH alcalino, que identifica as hemoglobinas normais e grande parte das anormais.
As amostras que apresentaram suspeita de alterações nos testes de triagem foram submetidas aos testes confirmatórios que incluíram: Eletroforese pH ácido, para diferenciação migratória de Hb S, Hb D, Hb C e Hb E; Cromatografia líquida de alta performance – HPLC, com o sistema automatizado Variant (Bio-Rad), para identificação de Hb anormais e quantificação das diversas frações de Hb.
As amostras com perfis de Hb alterados nos testes de triagem e complementares foram submetidas à extração de DNA pelo método fenol-clorofórmio, com modificações.Para confirmação dos mutantes de globina utilizou-se amplificação dos alelos por PCR, análise por sonda oligonucleotídeo alelo específica (ASO) pelo Kit mDx (Bio-Rad Laboratories) e de fragmento de restrição (RFLP) após digestão com a enzima Dde I para Hb S, Bse RI para Hb C e Taq I para Hb Hasharon.
Foram analisadas no Hemocentro, no período de janeiro de 2002 a abril de 2003, 16 mil amostras de sangue de doadores, por procedimentos, que incluíram hematócrito e eletroforese em pH alcalino. Destas, 397 amostras de sangue apresentaram alteração de hemoglobinas no perfil eletroforético em pH alcalino. O valor médio dos hematócritos foi de 40%. Do total de 397 amostras avaliadas no LHGDH, 71,53% correspondiam ao perfil eletroforético similar a Hb S; 22,41% ao perfil semelhante à Hb C e 6,04 % com perfis variados, incluindo variantes de migração mais rápida que a Hb A em eletroforese pH alcalino, destacando-se que todas estavam em heterozigose.
Dentre as amostras que apresentaram perfil inicial de Hb AS (heterozigoto para Hb S) cujo laudo geralmente é emitido por este achado laboratorial, destacou-se a freqüência de 58,45% de Hb AS; 36,26% de Hb AS associada à alfa talassemia e 0,35% de Hb AS com persistência hereditária de Hb F. Foram observadas ainda neste grupo de "prováveis Hb AS", 2,82% de Hb AD Los Angeles associada à alfa talassemia; 0,35% de Hb A Korle – Bu e 1,05% de Hb A Hasharon
Trabalho “realizado no Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas da Unesp em colaboração com o Hemocentro de São José do Rio Preto, SP.”
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