Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia
Print version ISSN 1516-8484
Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.23 no.1 São José do Rio Preto Jan./Apr. 2001
Genotipagem do locus ABO (9q34.1) em doadores de sangue da região noroeste do Estado de São Paulo
Luiz C. Mattos,Fábio E. Sanchez,Juliana R. Cintra,Andréa B.C.F. Salles,Cláudia R,Bonini-Domingos e Haroldo W. Moreira.
As glicosiltransferases que sintetizam os antígenos A e B são codificadas pelos genes que ocupam o locus ABO, os quais são herdados pelos princípios mendelianos (2) . O modelo com três genes A, B e O proposto para explicar seu modo de herança foi confirmado com a clonagem e o seqüenciamento do locus ABO no início dos anos noventa e a partir desses conhecimentos, as diferenças na seqüência de nucleotídeos dos genes tornaram-se conhecidas e passíveis de serem utilizadas na genotipagem de populações (3, 4).
Os genes A e B diferem em sete substituições de nucleotídeos localizadas nas posições 297, 526, 657, 703, 796, 803 e 930 e o gene O1 é idêntico ao gene A, exceto pela deleção de uma base nitrogenada guanina na posição 261 do exon 6 (4). Essas diferenças contribuem para a troca de quatro aminoácidos nas posições 176, 235, 266 e 268 das transferases A e B e portanto, determinam suas especificidades (5).
Como as mutações criam ou abolem sítios de restrição, diferentes enzimas podem ser usadas na identificação desses genes e na definição dos vários genótipos do locus ABO. A deleção G261 cria um sítio de restrição para a enzima Kpn I, que permite diferenciar o gene O1 dos genes A e B; a substituição G703A cria outro sítio de clivagem para a enzima Alu I, diferenciando o gene B dos genes O1 eA e o gene A, por sua vez, pode ser identificado pelos sítios de restrição com as enzimas BssH II e Hpa II em torno das posições 526 e 703, respectivamente (3, 4).
Diferentes estudos identificaram, com base nessas alterações nucleotídicas, os genótipos ABO em materiais biológicos de interesse médico-legal e em sangue periférico, tendo sido possível a classificação das amostras analisadas em AA, AO, BB, BO, AB e OO (6,7,8,9, 10).
A descrição de outros genes O revelou que o polimorfismo do locus ABO não estava restrito apenas aos genes A,B e O. O gene O2, sem a deleção G261, mas com as mesmas seqüências de nucleotídeos do gene B na posição 526 e do gene A nas posições 703, 796 e 803, foi encontrado em europeus com freqüência em torno de 3,7% (10, 11, 12). O gene O1v, embora apresente a deleção G261, difere do gene O1 em sete nucleotídeos localizados nos exon 3, 4, 5, 6 e 7 e pode ser facilmente diferenciado com as enzimas BstU I, Kpn I, Mbo I e Dde I que reconhecem sítios de restrição nas posições 188, 261, 646 e 771 (13).
O objetivo deste trabalho foi verificar a distribuição dos genótipos ABO e estimar as freqüências relativas dos genes mais comuns em uma amostra da população brasileira oriunda região noroeste do Estado de São Paulo, Brasil.
Os fenótipos eritrocitários do sistema ABO foram identificados por métodos de hemaglutinação padronizados em tubos (14), sendo o DNA genômico isolado dos leucócitos do sangue periférico por método salino (15).
Nosso protocolo de genotipagem consistiu de quatro reações de PCR, sendo que para a identificação dos genes A,B, O1 e O2 foram realizadas três amplificações com os pares de primers fy-46/fy-57 para a PCR 1, fy-43/fy-31 para a PCR 2 e fy-47/fy-29 para a PCR 3, enquanto os genes O1 e O1v foram diferenciados com os pares deprimers fy-47/fy-31 na PCR 4.
O objetivo deste estudo foi investigar a distribuição do polimorfismo do locus ABO numa amostra da população brasileira, constituída por doadores de sangue da região noroeste do Estado de São Paulo. Os fenótipos eritrocitários ABO dos 324 doadores de sangue foram determinados por métodos sorológicos de rotina e nenhum subgrupo raro foi encontrado.
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